domingo, 29 de maio de 2011

Cadillac Records, o filme.


O artista no geral é um ser cheio de dores, alegrias e sua cabeça fervilha. E no geral também precisa de um catalisador para que tanto suas idéias como seu talento apareça. Cadillac Records é um filme que conta a história de um homem que foi esse catalisador para muitos artistas negros na América dos anos cinqüenta: Leonard Chess.
Lenny, como era conhecido, era polonês e tinha uma boate o Macomba, no meio do bairro negro de Chicago; acolhia músicos de blues e várias vertentes, mas seu sonho mesmo era abrir uma gravadora. Conseguiu em 1950 ao inaugurar a Chess Records e por suas portas passaram artistas que fizeram histórias e lendas do blues americano e engatinhavam no que seria o nosso bom e velho rock and roll.
O filme conta a historias de várias dessas lendas: Muddy Waters, Little Walter, Howlin’ Wolf, Chuck Berry e Etta James, entre outros. Entre sucessos, gravações, cigarros, mulheres a rodo e maluquices Cadillac Records faz uma linha do tempo e mostra como era um artista negro fazer sucesso, suas dores, maluquices, desejos e vida atrás dos bastidores. Lenny era pragmático o suficiente pra saber que aquela música desprezada pelos brancos tinha tudo pra estourar e gente ávida para consumir. Acredito que ele foi um dos primeiros produtores musicais a fazer uso do jabá, sem culpa nenhuma. A cena em questão é hilária: mostra a indignação de sua sócia e a cara assustada do Muddy. Não precisa dizer que ele perdeu a sócia nesse mesmo dia, mas a música de Muddy tocou e foi parar na parada da Bilboard.
É bacana, mas ao mesmo tempo triste ver como talentos surgiam e se perdiam para drogas, álcool, mulheres e jogo. Uma cena é pontual nisso: quando Lenny fala para Etta James, sobre cantar e viver o blues. Duas coisas bem diferentes. E mostra para ela a diferença de posturas dos cantores que viviam conforme essa crença. Etta, além de cantar vivia todas as dores do blues na própria carne.
E há Chuck Berry, um cantor super talentoso que não comia em lanchonetes de brancos, não dormia em hotéis de brancos, não bebia, não fumava, e foi um dos artistas que por onde se apresentava a segregação deixava de existir, pelo menos enquanto ele estava no palco. Chuck adorava menininhas, de preferência brancas, esse era seu “vício”. Por causa disso amargou cinco anos de cadeia. No filme, pelo pouco que se vê, Chuck merecia uma produção só dele.
Como tudo que é bom, a festa não dura para sempre e chega uma hora que é preciso acender a luz e ir para casa. O final é quase melancólico, mas Cadillac Records é um filme imperdível para quem quer conhecer um pouquinho da grande influencia do blues e de seus percussores.
Não quer assistir ao filme? Ouça a trilha sonora, vale muito à pena!!


Baixar trilha sonora:


P.S. Descubram o porque de Cadillac Records. rsrsrsr


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dançando pra não enlouquecer


Em 1998, minha vida era uma mistura de novidade e porcaria. Tinha acabado de ser efetivada na Secretária de Educação, fazia faculdade e pela primeira vez em muito tempo via que o chão sobre os meus pés não tremia, pelo menos financeira e profissionalmente. Mas ao mesmo tempo minha vida pessoal e sentimental estava uma droga. Gostava de um cara que nem sabia que eu existia, minha auto-estima estava arrastando no chão e tinha engordado horrores. Enfim, subir no banquinho e pular era fácil. Mas, embora minha alma estivesse em frangalhos nunca fui de desistir e todos os dias eu levantava, tomava meu banho, me arrumava, ia trabalhar e no final do dia, aula. E foi exatamente na faculdade que encontrei o que eu precisava pra colocar, se não minha vida, pelo menos minhas emoções e meu interior nos eixos.
Um belo dia, encostada na mureta em frente à sala de aula, vi uma colega sair de uma sala que ficava em frente a minha, ela parou, nós conversamos e curiosa perguntei de onde ela vinha. Minha colega me explicou que ali era o setor de psicologia da faculdade e que os alunos tinham atendimento gratuito, caso quisessem fazer terapia. Não pensei duas vezes; entrei e marquei uma hora, a sessão ficou marcada pra dali uma semana e esperei ansiosamente. No dia marcado, lá estava eu e minha ansiedade foi vencida por minha surpresa ao ver o psicólogo, que numa palavra era um GATO!!! rsrsrsr Passado a surpresa inicial começamos a conversar, quer dizer, eu falava ele escutava e foi assim em todas as sessões.
Aprendi muito com o Celso, ele como eu era direto e não mandava dizer. Parecíamos dois homens da caverna discutindo a relação; e foi ali, sentada e olhando para aquele homem lindo que descobri muito de mim, impus limites à família e finalmente fechei a porta (literalmente) do meu quarto quando queria um pouco de privacidade. Comecei aprendendo a dizer não e o mais importante de tudo: virei mulher, um ser feminino com desejos, vontades e características próprias. A primeira vez que me maquiei e saí na rua às três da tarde com rímel, lápis, sombra e batom tinha a sensação que todo mundo me olhava. Foi um sentimento horrível, mas ao mesmo tempo libertador.
Foi na terapia que vi o quanto era especial em ser filha única no meio de quatro homens, de ter um guarda roupa e um canto só pra mim.
Mas faltava uma coisa; eu sempre fui grandona e meio desajeitada, sempre fiz esportes de força e velocidade, handebol, natação, capoeira. Não era nem um pouco feminina. Resolvi que queria dançar e comecei a procurar uma dança que eu gostasse e sentisse afinidade. Me encontrei na dança do ventre e ela me suavizou. Lembro que a professora perguntou para todas as meninas na primeira aula, por que elas haviam escolhido a dança do ventre; muitas responderam porque era uma dança bonita e sensual, outras para impressionar maridos e namorados, algumas por indicação médica e eu calada no meu canto. Ela então se virou, olhou pra mim e perguntou:
− E você, por que você está aqui?
No que eu respondi:
− Eu sempre fui grande e desajeitada e não me acho feminina, eu acredito que a dança do ventre vai me dar uma leveza que não tenho e me tornar mais mulher.
Ela sorriu e disse: − Você está no lugar certo e pelas razões corretas.
O resto é história! Era uma delícia se arrumar pra ir pra aula. Emagreci, aprendi a me maquiar, arranjei um namorado na academia, conheci um monte de gente, aprendi uns passos básicos e de quebra fui me transformando na mulher que sou hoje.
Um caso a parte nisso tudo eram as músicas que dançávamos, lindas, maravilhosas. Cada uma com uma característica diferente e para cada ocasião um som diferente. Tenho vários cds, dvs e até fitas em VHS! Ainda hoje ouço e saio dançando pela casa. Não virei uma bailarina, mas, conheço os movimentos e muitos artistas da cena árabe. Entre elas, uma bailarina maravilhosa chamada Soraia Zaied. Se fosse pra ser alguém diferente de mim, queria ser ela.







Uma das características da Soraia é que ela sempre dança de sapatos altos. A única concessão feita a isso são as músicas folclóricas onde a bailarina obrigatoriamente dança descalça. Ela é tão famosa e competente na cena árabe e de dança do ventre que o cantor e compositor Tony Mouzayek, fez uma música em sua homenagem chamada Dança para Soraia Zaied. Ela ainda foi capa de três cds do cantor.
Soraia reside agora no Egito, onde está casada e tem um show permanente em um hotel 5 Estrelas da cidade do Cairo.
No vídeo, ela dança uma modalidade chamada Derback; caracterizada pelos solos de percussão, movimentos rápidos e muitas quebras de quadril. Lindo de se vê, fôlego de maratonista pra dançar.